segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Brincadeira de mal gosto

Parquinho da pracinha da infância, 09:34, anos atrás

Observando a criança chego a uma conclusão um tanto pessimista quanto à vida. O adulto, crê fortemente que as marcas que a vida imprime, lhe concedem mais armas para enfrentá-la. Lembrando da infância, percebo que o homem não evolui, mas sim involui. Quando pequenos, sabemos lidar com fineza e requinte com contratempos grandiosos, o fim de uma amizade, a desilusão amorosa, a perda material, o fracasso, enfim lidamos com maestria com coisas que não conhecíamos até então.
Me expliquem como, um ser que surge do nada, que emerge do ventre da mãe - para os menores, é a cegonha que vos trouxe viu? - começa a experimentar o mundo, e se sai tão bem com a derrota do timinho de futebol no campeonato do bairro, como um indivíduo tão jovem - veja que tendência mais adulta de associar idade à capacidade - consegue compreender que a perda de um objeto, por mais que venha regada a lágrimas - e isso se aplica à derrota do time também, é apenas uma perda, e que no outro dia surge um novo brinquedo, e uma nova partida de futebol? Mágica, será tia?
"Nota dez Joãozinho", exatamente isso, a sofisticação dos pequenos consiste enxergar a mágica das coisas. Por baixo do cabelo repartido e dos laços de fita, os "projetos de gente" tem um aparelho que consegue compreender fatos de forma muito superior. Não sabem o que é morte, mas entendem quando alguém "vai para o céu" - quando crescem um "cadinho" mais, mandam algumas para o caminho oposto, com certa precocidade comecei a fazer isso; não sabem o que é amor - e nem que o Ministério da Saúde adverte - mas conseguem expressá-lo de forma mais pura e inteligente que o "maramanjo" que escreve essas palavras, por exemplo; e uma infinidade de outras coisas que carregam na sua bagagem de vida.
Assumo desde já que sou involuído, não sei como suportar certas "traquinagens" da vida. Derramo lágrimas e paro por aí, muitas vezes sem ação, inerte como um joão-bobo - acho que ninguém brinca mais com isso. O mais trágico, é que muitas das "peças pregadas" são nada mais que "figurinhas repetidas", coisas que na minha meninice consegui passar por cima. É coleguinha, outrora eu "rapelava" certas coisas da vida.
Que a vida é uma brincadeira de mal gosto, acho que todos nós sabemos, mas somente quando pequenos é que sabemos brincar. É por isso que às vezes me dá vontade de sair da caixa-de-areia, do roda-roda, do balanço, do parquinho, porque vejo que não sei brincar mais. Mas quem sabe não encontro minhas peças de Lego e monto uma nova história.

2 comentários:

  1. se superando sempre hein..
    to quase que desejando que sejas uma máquina de algodão doce..cada hora tem que sair um novo algodão, rs.

    "C vai tocar no meu radin"

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  2. Sim, cada dia mais que "crescemos" e "evoluímos" parece que estamos na verdade é diminuindo, perante os problemas, a vida, o mundo......
    Quando eu era pequeno vivia em um mundo do meu tamanho, hoje o mundo é assustadoramente colossal, assim são com os problemas e desafios. Estamos crescendo juntos, nossa geração, cada dia maior, cada dia menor....

    “Crescer é um empreendimento bárbaro”- (capitão Gancho)

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