sábado, 18 de setembro de 2010

Vivendo uma história de aventura para garotos

Numa loja de LPs, mil novecentos e oitenta e alguma coisa, RP.

"Can't escape, if I wanted to
Living a boy's adventure tale
I may be dreaming but I feel awake..."
                                                     A-ha, Living a boy's adventure tale


Não sei ao certo como fui gostar dessa banda, nem porque me meti a escutar tão assíduamente suas canções, e nem porque suas melodias mexem com meu íntimo. Mas acho que tem a ver com uma história.
Antes, como manda a cartilha, falo um pouquinho da banda que embala minha escrita. A-ha é uma banda norueguesa, que canta músicas em inglês, que fez sucesso no Brasil na década de 1980, e que para os padrões norte-americanos e britânicos de sucesso não emplacou. Suas músicas são marcadas por uma forte melancolia e suas letras cantam o amor de forma densa muitas vezes de forma desiludida.

Minha pequena história de aventura começa na década de 1980.

Era uma vez um rapaz recém-formado em medicina, fazendo residência. De aspecto magro, cabelos negros, baixa estatura e olhos fundos. 

Era uma vez uma moça que estudava arquitetura. De aspecto esbelto, cabelos longos e claros, baixa estatura e olhos sonhadores. 

Ambos de famílias pequenas, ambos jovens, ambos gostavam da música da época - de A-ha inclusive, ele em especial, ambos assitiam TV, ambos morando em uma grande cidade, ambos sonhadores. Acabaram por se apaixonar. Ele fazia residência, ela o ajudava na residência. Ela fazia arquitetura, ele arquitetava declarações. Estudantes, no começo da vida, juntaram alguns sonhos em comum, descartaram outras pretensões individuais. 

Sua gente não aprovava tudo aquilo. A mãe dele queria se meter a ser mãe dela, a mãe dela se negava a ser mãe dele. Os patriarcas, diplomáticos, observavam com cautela o amor dos filhos. Os irmãos observavam pensativos tudo o que se passava.

Semanas, meses, cartas, telefonemas, enfim noivos. Os dois trocaram alianças de noivado, na casa dos pais dela. Amigos, familiares, tios, tias, curiosos, todos brindaram o amor do casal, e fizeram votos de felicidade.

Saúde... um tema complicado para ele. Desde menino, ele sofria dos rins. Nunca pôde brincar como as outras crianças. Sua deficiência influiu na sua escolha, resolveu ser médico, urologista, cuidar de rins. Cuidou de muitos, mas não conseguiu salvar os seus.

Casa... ela parecia se interessar por essas coisas. Antes de estudar arquitetura, ela já havia começado administração. Ao que me parece, ela parecia querer construir um lar. E contruiu vários, até construir seu próprio.

Já eram mil novecentos e noventa e um quando final se aproximou, a dupla de namorados tornara-se um trio. Estava para nascer o fruto daquilo tudo, daquele amor, daquela paixão, daquela união, daquele sonho... daquele erro. 

Da paz entre as casas, fez-se a guerra. O casal, ou melhor a tríade, estava na linha de frente. Corríamos sem rumo... sim eu estava entre os três, eu senti a dor dela, eu ouvi o medo na voz dele, eu corri junto deles, eu viajei repentinamente com eles, eu arrumei malas com eles, enfim eu era onipresente na vida deles... eu estava ali... "meninos eu vi".

Quando o cessar-fogo chegou, ele já tinha partido dela, ela também já tinha partido dele. O que restou foram dois corações partidos, e um coração que começava a bater. Pelo convívio próximo e íntimo, eu optei por ficar ao lado dela. 

Ela conseguiu reconstruir seu coração, e abriu as portas dele a um novo amor. 

Ele teve sucesso na operação de salvar o dele, e foi amparado por um novo amor.

E eu...eu fiquei para contar um pouco dessa história, que eu assisti de perto, juro. Ouvindo A-ha e escrevendo, voltei àqueles tempos.

2 comentários:

  1. Cada novo texto uma revelação magnífica da arte de escrever. Estou com você nessa passagem por esse lugar chamado TERRA! Já pensou em escrever um livro?

    ResponderExcluir
  2. Grande amigo

    Olha, estou a meia hora tentando arranjar um cometário, mas não consigo. Enfim, realmente emocionante, forte, lírico e arrebatador.

    Com estupor e admiração

    ResponderExcluir